Não sei se ouvi de alguém, se li em algum lugar, ou se fui eu mesmo quem inventou. Mas desde que meus filhos eram pequenos, sempre alertava a cada um deles que existem na vida 3 forças que atrapalham a evolução do ser humano: o medo, a vergonha e a preguiça.
O medo é aquela sensação paralizante que nos faz ficar perguntando exagerada e indefinidamente sobre as conseqüências negativas de uma atitude que pretendemos tomar. E assim, não a tomamos. Engavetamos a idéia, deixamos o tempo passar, e quando abrimos a gaveta o que poderia ter sido a grande sacada da vida tornou-se algo óbvio, rotineiro e que, provavelmente, alguém menos medroso soube colocar em prática, no tempo certo, e se deu muito bem.
Dizem os cientistas que o tal medo está diretamente ligado à quantidade de uma determinada enzima que circula em nosso sangue e que com o avançar da idade vai se esgotando do organismo, nos tornando seres mais precavidos, cuidadosos, conseqüentes e, obviamente, medrosos.
O curioso é que quando analiso algumas empresas e executivos com quem tive contato na minha vida profissional, a descoberta científica não faz muito sentido. Pelo contrário: no mundo dos negócios, tenho encontrado muito mais jovens cagões e coroas audaciosos do que o contrário.
Quantas e quantas vezes já me deparei com jovens gerentes de produto incapazes de expressar sua opinião, de contribuir com suas idéias, de discutir por suas crenças, pelo simples medo de comprometer-se. O mais trágico é que muitos deles acabam se dando bem, crescendo na empresa ou conquistando melhores empregos. Mais ou menos como acontece no reality show Big Brother: eles vão se escondendo, evitando os confrontos e sobrevivendo semana após semana. Mas sempre com medo de serem colocados no paredão, porque sabem que sua existência profissional foi até então vazia, simplesmente descartável.
Já a vergonha, que na vida doméstica se associa muito mais às crianças tímidas e em fase de socialização, no caso da vida corporativa é marca registrada dos executivos mais bem sucedidos, que chegaram lá e que têm uma imagem a zelar.
A preocupação exagerada com o que os outros vão pensar, com o reconhecimento do mercado, ou com sua própria empregabilidade, tem abortado ótimas idéias que trariam excelentes resultados às empresas que esses executivos representam.
A vergonha pode se manifestar sob diversas formas: seja o Diretor de Marketing que não consegue dar um sonoro não para a idéia estapafúrdia mas premiável do Diretor de Criação da agência, ou o Diretor de Contas que leva para a agência um briefing sem o menor sentido, só porque não quis ficar fazendo perguntas constrangedoras – mas possivelmente esclarecedoras – para Sua Majestade o Cliente.
Lembro do caso do Diretor de uma administradora de Shopping Centers que simplesmente não conseguia aprovar um anúncio sobre a sua empresa por ficar pensando no que seus concorrentes diriam no próxima reunião de sua Associação de Classe. Foram layouts e mais layouts, ajustes sem fim no texto, cancelamento de várias inserções na revista, até chegarmos no anúncio aprovado: um informe publicitário morno, com cara de prestação de contas de administração pública de cidade do interior. Mas, em compensação, ninguém olhou feio para o tal Diretor, ninguém ligou criticando, ninguém reagiu.
Muito provavelmente, porque ninguém sequer viu o tal anúncio.
E chegamos finalmente à preguiça. Ah, essa autêntica praga nacional. Desde a criação de Macunaíma que a preguiça assola de forma oficial a nação brasileira. Parece que largar o lápis, o deixar para amanhã e o gerundismo sem fim são práticas consagradas nos manuais de administração de nossas empresas.
O pior é que a preguiça não está só no ato de fazer, mas também no de pensar. Com o advento do e-mail, então, a preguiça ganhou asas. Ninguém procura mais nada nos arquivos. É mais fácil pedir por e-mail, porque além de não precisar se mexer, ainda fica registrado que você está querendo fazer alguma coisa e só não fez porque está esperando receber o retorno do e-mail.
Medo, vergonha e preguiça são 3 forças que não fazem o menor sentido num ambiente corporativo, onde o risco é parte integrante do negócio. E no mundo dos negócios, você sabe, o maior risco é ficar parado.
Por Zé Luiz Tavares em Revista Alshop Noticias | Abril 2008